Na
época do namoro, ele trazia-lhe flores e bombons sempre que a visitava. Todo
final de semana levava-a para jantar fora, ou ao cinema, à danceteria, ou
simplesmente à pracinha da cidade, onde ambos se beijavam no banco perto do
arbusto de flores. Era uma época doirada. Quase toda noite, ele surpreendia-a
com um telefonema; por muito tempo fazia juras de amor, falava coisas bonitas,
sua poesia. Não eram poucos seus elogios àquela mocinha. Ele cultivava uma
imensa admiração por seus longos cabelos negros e um secreto desejo por seus
lindos seios. Elogiava seu sorriso doce, seus olhos brilhantes, seu narizinho,
suas macias mãos. Criatividade não lhe faltava para apontar em cada parte
daquela amada uma beleza especial. Ele era um sujeito distinto, vestia-se bem,
perfumava-se como uma abelhinha que colhe o néctar na flor mais cheirosa. Bem
penteado, rosto liso, dentes impecavelmente brancos, ele queria estar sempre à
altura de sua beldade, combinar com ela em elegância. Tudo parecia perfeito
entre os dois pombinhos que se amavam, na época do namoro, é claro. Pois,
depois de casados, ele transformou-se em outro homem, como já imaginavam, como todos
se transformam. Já não tinha a mesma gentileza de antes, nem a mesma conduta,
nem o mesmo charme. Não se achava obrigado a agradá-la o tempo todo, nem
identificar virtudes na pessoa dela. Mas, o que mais irritava sua amada e a
decepcionava, era o péssimo hábito que ele tinha adquirido de fazer comentários
e perguntas grosseiras: “Flores para quê, você não morreu?” “Bombons? Quer
ficar mais gorda?” “Elogios a gente só faz para o chefe” “Para quê vou me
cuidar, não sou minha babá?”
MINICONTOS DE ALEXANDRE CAMPANHOLA