sábado, 14 de março de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Outro homem


 
 
 
Na época do namoro, ele trazia-lhe flores e bombons sempre que a visitava. Todo final de semana levava-a para jantar fora, ou ao cinema, à danceteria, ou simplesmente à pracinha da cidade, onde ambos se beijavam no banco perto do arbusto de flores. Era uma época doirada. Quase toda noite, ele surpreendia-a com um telefonema; por muito tempo fazia juras de amor, falava coisas bonitas, sua poesia. Não eram poucos seus elogios àquela mocinha. Ele cultivava uma imensa admiração por seus longos cabelos negros e um secreto desejo por seus lindos seios. Elogiava seu sorriso doce, seus olhos brilhantes, seu narizinho, suas macias mãos. Criatividade não lhe faltava para apontar em cada parte daquela amada uma beleza especial. Ele era um sujeito distinto, vestia-se bem, perfumava-se como uma abelhinha que colhe o néctar na flor mais cheirosa. Bem penteado, rosto liso, dentes impecavelmente brancos, ele queria estar sempre à altura de sua beldade, combinar com ela em elegância. Tudo parecia perfeito entre os dois pombinhos que se amavam, na época do namoro, é claro. Pois, depois de casados, ele transformou-se em outro homem, como já imaginavam, como todos se transformam. Já não tinha a mesma gentileza de antes, nem a mesma conduta, nem o mesmo charme. Não se achava obrigado a agradá-la o tempo todo, nem identificar virtudes na pessoa dela. Mas, o que mais irritava sua amada e a decepcionava, era o péssimo hábito que ele tinha adquirido de fazer comentários e perguntas grosseiras: “Flores para quê, você não morreu?” “Bombons? Quer ficar mais gorda?” “Elogios a gente só faz para o chefe” “Para quê vou me cuidar, não sou minha babá?”  



MINICONTOS DE ALEXANDRE CAMPANHOLA

domingo, 8 de março de 2015

A IMPORTÂNCIA DE SER UMA PESSOA BOA


 

 
 
 
 
A bondade para mim mais que uma virtude, é um exercício diário. É muito difícil ser bom por mais que achemos ser algo simples. O ser humano tem dificuldade de entender a essência da bondade e a exerce conforme sua conveniência, sua interpretação. Geralmente, temos o costume de praticar a bondade com pessoas próximas a nós, como família e amigos, mas tal atitude será que pode qualificar-nos como pessoas boas? Um dos períodos que eu mais me emociono e choro é no período natalino, quando leio reportagens ou assisto na tv manifestações de genorisidade das pessoas com os mais carentes, influenciados pelas simbologia da época, mas estas pessoas que se lembram do próximo apenas em determinada época podem ser consideradas pessoas boas? Há pessoas que têm certo receio em praticar a bondade temendo que sejam consideradas ingênuas, que sejam surpreendidas com a ingratidão alheia, que se tornem diferentes da maioria, cujo desejo de ser bom é inexistente. Muitos consideram a prática da bondade uma manifestação de fraqueza. Lembro-me bem de quando minha avó afirmava que pessoas boas demais não têm valor, que ser bom demais não presta. Ela não entende que as pessoas boas têm muito valor aos olhos de Deus e que praticar a bondade torna nossa existência muito melhor. Eu, particularmente, consigo conviver com quase todos os defeitos humanos, mas não suporto pessoas más. Pessoas que sentem prazer no sofrimento alheio, que torcem contra os outros, que maltratam até os animais, realmente precisam realizar uma profunda autoavaliação para entenderem que não têm função nenhuma neste mundo. Vivemos em uma época de uma carência preocupante de bondade nos corações. As pessoas só pensam na sua individualidade, no próprio interesse. Querem defender suas crenças, seus ideais, seus valores e com isso, voltam-se uns contra os outros, impedindo qualquer possibilidade de paz plena. Vivemos em uma época de intolerância. Por isso, acho que praticar a bondade todos os dias é a única saída para sermos pessoas em constante evolução. A bondade não se manifesta exclusivamente em ajudas financeiras. Um simples sorriso e gesto de atenção já é um gesto de bondade, pois muitas pessoas precisam apenas disso para serem felizes. A bondade é um exercício de fazer o bem, entender a necessidade alheia e oferecer uma ajuda, uma atenção. A bondade é um gesto de amor.

 

ALEXANDRE CAMPANHOLA

sábado, 28 de fevereiro de 2015

VALORIZE TEU EMPREGO



 
 
 
 
Hoje me lembrei, olha que fato curioso, do Sergio Mallandro. Na verdade, lembrei-me de um dos encerramentos de seu programa na época que ele trabalhava na CNT- Gazeta. Como de costume, sempre que encerrava seus programas, o Sergio deixava uma mensagem, e naquele dia não foi diferente. Ela falou sobre a importância que devemos dar ao nosso emprego independentemente se ele é ou não o melhor do mundo. Disse que é melhor estarmos empregados que procurando emprego, e por isso devemos ser gratos pela condição.

 Eu concordo plenamente com o Sergio. Vejo tantas pessoas que passam o dia ou dedicam muito tempo a reclamar do emprego. Reclamam do chefe, do salário, dos benefícios, do ambiente, dos colegas... e nunca dedicam sequer um minuto para agradecer a Deus por possuir um emprego que lhes permite sustentar a família, pagar as contas, aprender ou aprimorar-se profissionalmente.

 Quantas pessoas não encontro, quando ando pelo centro de Campinas, com uma pasta cheia de currículos debaixo dos braços, saindo das agências com uma fisionomia preocupada, triste, esperançosa, enfim, desejando muito estar na condição que muitos não valorizam, empregados.

 Não quero dizer que não devemos reivindicar nossos direitos, que devemos ser tratados como escravos, mas há pessoas que se comportam como se merecessem algo melhor, quando o primeiro passo para isso é ser um grande profissional.

 Seja grato por teu emprego, porque vivemos em uma realidade difícil. Como diz o professor Marins, consultor empresarial, passamos grande parte de nosso dia trabalhando e temos que aprender a gostar do que fazemos. E quem gosta do que faz é valorizado, e não tem tempo para reclamar.

 
 
ALEXANDRE CAMPANHOLA

sábado, 21 de fevereiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Obsessiva


 
 
 
As brigas com o namorado eram constantes por seu ciúme desmedido. Desde o começo do relacionamento, ela conhecia a insuportável popularidade dele com as mulheres, sua capacidade nada agradável de fazer amigas. Quando saiam juntos, investigava minuciosamente seus olhares e não o deixava sozinho sequer por um segundo. Telefonava-lhe várias vezes durante o dia, sobretudo nos finais de expediente, e era precisa no cálculo do tempo que ele deveria chegar em casa. Realmente, ela não admitia infidelidade. Às vezes, atentava-se à alguma notícia sobre crime passional no noticiário da TV, e adorava quando uma infidelidade era vingada com derramamento de sangue. Se soubesse, no salão de beleza, que alguma conhecida estava traindo o marido ou vice-versa, logo se revoltava e discursava criticamente para as amigas, expondo os seus valores e princípios. O namorado sentia-se sufocado, sempre com as roupas examinadas, os registros de telefonemas verificados, aquela desconfiança sem limites. Em virtude de tanta obsessão, já não recebia amigos em casa, somente seu sócio na empresa onde trabalhava, junto do qual planejava as ações naquele negócio. Para o namorado, a única vantagem de ter uma namorada tão severa no aspecto da fidelidade era que nunca seria traído. Até que se decepcionou. Foi quando a flagrou aos beijos com o sócio certa noite, quando um trânsito horrível o impediu de chegar pontualmente em casa. Ela, depois de insistentes olhares daquele homem e dos telefonemas ousados, resolveu ceder ao seu discurso profano de que trair é muito excitante.


 
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sábado, 14 de fevereiro de 2015

O ASILO - 13/02/2012



 
 
 
 
Quem defronte passava àquele hostil portão,

Cujas grades pareciam as de uma cela,

Ocultar não podia um súbito pavor

Da atmosfera matutina que se esfumando,

À tarde concedia o retorno triunfal.

Percebendo os vultos que em meio aos arvoredos,

Lentamente vagavam quais sombrios fantasmas,

Quem defronte parava àquele hórrido exilo,

Por aflição ou pena, emoções indecisas,

Maldizia seus reflexos que são efêmeros,

Quando se entende que a mudança nunca cessa.

 

Era um recinto calmo o que detrás surgia,

Daquele rude vestíbulo que instigava

As dolorosas angústias e os pesadelos;

Era uma clausura onde as bruscas recordações

Nos ouvidos frágeis cruelmente gemiam.

Lá, os horizontes da esperança fugindo

Das ânsias navegantes, dos lentos ocasos,

O amanhecer feliz tornavam interdito.

As mágoas eram corbelhas de negras flores,

De desprezos medonhos, de frutos tão ácidos,

E perdiam-se nos sulcos das frias faces.

Remorsos confusos também em cinzas nuvens,

Enegreciam aqueles instantes tétricos,

Ameaçavam com estrondos esquecidos.

Mas, seria mesmo por culpa atroz e vil,

Que aquela gente abandonada, envelhecida,

Fora privada de morrer em solo humano?

 

Oh! Quem lamentava possuir semelhança

Com os algozes que aquele portão cruzaram,

Que decidiram o passado destroçar,

Ao espreitar o movimento tão retrógrado,

Ao respirar aqueles ares tão senis,

Não mais sabia se encontrava a confiança

Nas sensações que nasciam ao seu redor.

 

E o entardecer adejava sobre o acre campo

De criaturas recurvas, encarquilhadas...

Onde infantis posturas eram encenadas;

Gargalhadas secas do desvario cortavam

As cortinas do silêncio perturbador.

Uma expressão malsã, uma tremente fala

Balbuciava a quem nem sombra produzia;

Aos raios do meio-dia o recolhimento,

A sopa trescalando, o violão dormente

Debaixo da laranjeira há pouco explorada,

E os ruídos de folhas secas sob os pés

Arrastadas naquele lodoso terreno.

Mais tarde, o sono fraterno em seu colo tinha

Aqueles infantes infensos ao vigor,

Talvez sábios para nutrir seus fundamentos,

Ou de uma mão tão caridosa dependentes.

 

 
ALEXANDRE CAMPANHOLA


sábado, 7 de fevereiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Dedicada mas em vão






Ela fez tudo por ele. Primeiro teve que enfrentar o preconceito alheio, que não aceitava o fato de ela “branquinha” ir morar com um “negrinho”. Ela nunca deixou de trabalhar, porque conhecia a tendência dele ao desemprego, sua fácil inclinação ao ócio, e por muito tempo o sustentou. Sempre se dedicou a sua condição de esposa, deixava o lar impecavelmente organizado, dava-lhe muito mimo, defendia-o das críticas de seus familiares. Ela calou muitas vezes seu ciúme, controlou os impulsos provocados pela TPM, tolerou às frequentes vezes que ele passava a noite fora de casa. Foi chamada de submissa, conivente, fraca. Soube como ninguém demonstrar seu amor, sua paixão e seu carinho. Fez tudo por ele, mas em vão. Na primeira oportunidade, ele a deixou.

 
 
 
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sábado, 31 de janeiro de 2015

PATRÍCIA - 23/11/2008


 
 
 
 

 
 
 
Daquela que meu riso exigia,

Que a luz da ternura refletia

Não vou me esquecer!

Por mais que o tempo tente levar

O esplendor que eu via em seu olhar,

Irei sempre o ter!

 

Em minha mocidade plangente

Onde na aurora da estrada ardente

Tão cedo morri,

Perdido entre as vagas da existência...

Servo do desgosto e da indolência,

Eu a conheci.

 

Sua fronte era uma paragem,

Na qual se desenhava a imagem

Do extremo dulçor;

Seu perfume... cheio de mistério

Não existiu em nenhum império,

Em nenhuma flor!

 

Negros, negros eram seus cabelos

Que a lua mais brilhava só em vê-los

Nos ares fluindo.

Aquela que talvez eu amava

Que a todos, ao sorrir, encantava

Vivia sorrindo!

 

Só ela que abarcava a pureza

Segava de minh`alma a tristeza,

Delicadamente!

E, no horto de meu triste existir,

Da esperança e crença no porvir,

Plantava a semente!

 

Ela era tão divina e singela,

Que ninguém será igual a ela

Em meu sentimento!

Bom era viver ao seu encanto,

Ter a sua voz qual doce canto,

Em seu beijo – alento!

 

Contudo, eu não tive esta ventura

De em seus lábios – filhos da candura –

Sentir a paixão,

De em seus ombros deitar o semblante

E não crer-me louco e delirante

Ante uma ilusão!

 

Na acre solidão em que ensebei

Meus louros de poeta e chorei

Já desfalecido,

Ninguém visitou-me em caridade,

Trazendo a flama da liberdade

Ao bardo esquecido!

 

Ninguém senão a gentil mocinha,

Que da bondade era a rainha,

A mais pressurosa!

E que minh`alma amava em segredo

Em sua sina atroz de degredo,

Sempre sequiosa!

 

Daquela que meu riso exigia,

Que a luz da ternura refletia

Hei de sempre ser!

Por mais que passe o tempo, estes anos

Me sejam tão cruéis, soberanos...

Não vou esquecer.

 

 
ALEXANDRE CAMPANHOLA
 
 

sábado, 24 de janeiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Flores murchas


 
 
Na mesa do bar, Camilo assistia atentamente a cantora no palco falar de amores, romances, desejos, em sua canção. O gelo derretia lentamente no copo de uísque, no compasso dos beijos ardentes que o casal da mesa ao lado encenava. Parecia que naquela atmosfera romântica os casais se multiplicavam, todo mundo se envolvia com a doce voz vinda do palco, era proibido estar só. Com um buquê de flores sobre a mesa, já murchas, Camilo era o único solitário naquela noite, que sonhara ser perfeita, como todos sonham quando desejam uma reconciliação. Mas, a mulher que ele esperava nada lhe prometera, apesar de seu perseverante esforço, e apenas um aviso lhe deixou. A noite assim foi se aprofundando, o bar ficou deserto, qual o coração de Camilo, onde existia um eco apenas: “Se eu não aparecer, esqueça-me!”.



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domingo, 18 de janeiro de 2015

CANÇÃO DO ÉDEN - 25/09/2002




 
 
 
 
Naquele dia de sol adusto,

No botequim, leis companheiros,

Ridentes quais boêmios augustos,

Entoavam seus cantos domingueiros;

Afinadas, as armas cadentes,

Desde o pandeiro ao fulvo violão,

Preludiavam as notas quentes

Da harmonia da triste canção.

 

Cingindo aquela mesa rotunda,

O encargo animava os cantadores

De fazer da tarde moribunda,

Uma flor a recender amores.

E, perante os jovens uma sombra

Espreitava a airosa cantoria,

Como a leoa atenta na alfombra

Observa o vagar de sua cria.

 

Um homem dolente e acabrunhado,

Cismando – não se sabia – na hora.

Bebia aflito um cognac gelado...

Fumava o cigarro de quem chora.

No fim da música predileta,

Aplaudia querendo partir,

E, sorrido à plêiade irrequieta,

Pedia p`ra canção repetir.

 

A plêiade, exibindo talento,

Continuou a cantar fremente

Os versos que ao homem – sofrimento –

Trazia a cada acorde estridente.

 

Contava pungente o som mordaz

O traiçoeiro destino de Adão,

Que por causa de uma serpe sagaz,

Do paraíso teve a expulsão.

Que por sua carência de siso,

Condenou a todos ao pecado,

E do mundo injusto o rude friso,

Impeliu-nos quando foi prostrado.

 

Tal qual um Baudelaire que profana,

O choroso homem se perguntava:

- Por que a desventura é soberana?

E, repetindo a questão arfava.

Até que em veneta ele falou,

Porque lhe afligia o torvo canto.

Sentido, sua vida contou,

Afogado em profundo quebranto.

 

Disse-lhes que seu amor eterno,

A rainha de toda a beleza,

Por um vão motivo e sempiterno

Deixou-lhe, na dor e na tristeza.

Por isso, lembrava-lhe a cantiga

O abismo que a ilusão nos forjou...

O homem deixou a plêiade amiga

E o botequim, cansado da vida.

 

No dia seguinte, se matou!

 



ALEXANDRE CAMPANHOLA
 
 
 

sábado, 10 de janeiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Camisa Rosa


 
 
 
Era um ou outro que conhecia seu nome de registro, Clodoaldo, pois desde sempre atendia às pessoas com a alcunha de “Camisa Rosa”, uma vez que raramente usava uma camisa de outra cor, senão daquela que caracterizava seu jeitinho plácido e manso, o qual combinava com seu sorriso de criança feliz. Camisa Rosa era um amor de pessoa, amigável, um esposo exemplar. Era incapaz de negar algo a qualquer um, sobretudo à esposa Mariazinha, uma baixinha meio marrenta que, obviamente, desfrutava da extrema bondade do esposo para reinar no lar. Até aquela impressionante tarde de uma quinta-feira outonal, a vida do casal baseou-se nesta relação previsível, em que Mariazinha mandava e desmandava em Camisa Rosa, controlava suas atitudes, impunha as exigências, explorava seu bom coração, enganava-o facilmente com mentiras, tinha a última palavra. Mas, naquela tarde, Mariazinha viu a decepção bater à porta e aquela imagem favorável de um esposo submisso desmoronar. Foi quando se negou veementemente a comparecer ao aniversário de oitenta anos da mãe de Camisa Rosa, a sogra, a qual o ensinou a ser daquele jeito. Com os excessivos “Nãos” de Mariazinha, um nervosismo incomum se apossou dele, que o fez lançar sua palma na fofa face da teimosinha. Ela apenas arregalou os olhos e o obedeceu. Ambos foram à festa, naquela tarde, em que Camisa Rosa tinha vestido uma camisa azul, que comprara para a ocasião.
 
 
 
 
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MINICONTO DE ALEXANDRE CAMPANHOLA
 
 

domingo, 4 de janeiro de 2015

À ATRIZ KERI RUSSELL - 23/05/2012


 
 
 
 
 
 
Aos teus pés hei de viver agora

E nada poderá me exilar

Do santuário de teu abraço.

Desde que conheci tua aurora,

De meu pensamento fiz teu lar,

Teu íntimo espaço.






 

À tua sombra de majestade

Não me importo com a escravidão,

Que me impõe teu soberano amor,

Porque teu nome é Felicidade

E vou gravá-lo em meu coração,

Qual um escultor.

 
 
 
 
 
 

Tua aparência branda me encanta,

Tens da candura os tons luminosos,

Os reflexos de um campo florido;

Tens o domínio de uma giganta

Sobre meus sonhos esperançosos

Que tenho nutrido.

 


 
 


Tens as palavras que me conforta,

A verdade no sereno olhar,

Da inocência o lago transparente.

Uma doçura que me transporta

Ao mundo afável que hei de habitar

Em ti existente.








Curvado a teus celestiais gestos,

Sei que também sorverei a paz

Ao merecer-te os beijos sutis.

Sempre escondida em sonhos modestos,

Tua imagem risonha me faz,

Me faz tão feliz.




 
 
 
Sempre discreta, jamais atroz,

Agora posso esquecer os gritos

De meus tempestuosos instantes.

Ah! Se eu soubesse que tua voz

Tem carinhos vastos e infinitos,

Eu te amaria antes.





ALEXANDRE CAMPANHOLA

sábado, 3 de janeiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: O inverso do inverso


 
 
 
Quem sabe não era a maior loucura de sua vida. Elizabeth era incapaz de relutar contra a atração que sentia por Christophe. Desde que o avistou pela primeira vez em uma despedida de solteira, quando foi levada quase à força, sob impressionante insistência, ela não conseguia mais evitar sua presença naquela boate, para admirar seu Gogo Boy predileto, aquele que fazia seu sangue arder nas veias. Estudante de Direito, filha de desembargador, educada em colégio suíço, agora ela era simplesmente uma moça que queria ser agarrada pelos braços musculosos do rapaz, molhar-se com seu suor, sentir os lábios dele sugarem os seus e viver em meio àquela vida devassa de sensualidade. Ela o amava, após noites e noites de divertidas conversas no bar, quando a dia ameaçava despontar. Namoravam até o amanhecer. Tudo parecia bem, até ela se decepcionar ao visitar o apartamento dele, e descobrir que era um universitário careta, futuro Biólogo, que adorava ler as obras de Nietzsche.

 
 
 
 
MINICONTOS DE ALEXANDRE CAMPANHOLA