sábado, 21 de fevereiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Obsessiva


 
 
 
As brigas com o namorado eram constantes por seu ciúme desmedido. Desde o começo do relacionamento, ela conhecia a insuportável popularidade dele com as mulheres, sua capacidade nada agradável de fazer amigas. Quando saiam juntos, investigava minuciosamente seus olhares e não o deixava sozinho sequer por um segundo. Telefonava-lhe várias vezes durante o dia, sobretudo nos finais de expediente, e era precisa no cálculo do tempo que ele deveria chegar em casa. Realmente, ela não admitia infidelidade. Às vezes, atentava-se à alguma notícia sobre crime passional no noticiário da TV, e adorava quando uma infidelidade era vingada com derramamento de sangue. Se soubesse, no salão de beleza, que alguma conhecida estava traindo o marido ou vice-versa, logo se revoltava e discursava criticamente para as amigas, expondo os seus valores e princípios. O namorado sentia-se sufocado, sempre com as roupas examinadas, os registros de telefonemas verificados, aquela desconfiança sem limites. Em virtude de tanta obsessão, já não recebia amigos em casa, somente seu sócio na empresa onde trabalhava, junto do qual planejava as ações naquele negócio. Para o namorado, a única vantagem de ter uma namorada tão severa no aspecto da fidelidade era que nunca seria traído. Até que se decepcionou. Foi quando a flagrou aos beijos com o sócio certa noite, quando um trânsito horrível o impediu de chegar pontualmente em casa. Ela, depois de insistentes olhares daquele homem e dos telefonemas ousados, resolveu ceder ao seu discurso profano de que trair é muito excitante.


 
SÉRIE: DECEPÇÕES AMOROSAS
MINICONTOS DE ALEXANDRE CAMPANHOLA
 

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