As brigas
com o namorado eram constantes por seu ciúme desmedido. Desde o começo do
relacionamento, ela conhecia a insuportável popularidade dele com as mulheres,
sua capacidade nada agradável de fazer amigas. Quando saiam juntos, investigava
minuciosamente seus olhares e não o deixava sozinho sequer por um segundo. Telefonava-lhe
várias vezes durante o dia, sobretudo nos finais de expediente, e era precisa
no cálculo do tempo que ele deveria chegar em casa. Realmente, ela não admitia
infidelidade. Às vezes, atentava-se à alguma notícia sobre crime passional no
noticiário da TV, e adorava quando uma infidelidade era vingada com
derramamento de sangue. Se soubesse, no salão de beleza, que alguma conhecida
estava traindo o marido ou vice-versa, logo se revoltava e discursava
criticamente para as amigas, expondo os seus valores e princípios. O namorado sentia-se
sufocado, sempre com as roupas examinadas, os registros de telefonemas
verificados, aquela desconfiança sem limites. Em virtude de tanta obsessão, já
não recebia amigos em casa, somente seu sócio na empresa onde trabalhava, junto
do qual planejava as ações naquele negócio. Para o namorado, a única vantagem
de ter uma namorada tão severa no aspecto da fidelidade era que nunca seria
traído. Até que se decepcionou. Foi quando a flagrou aos beijos com o sócio
certa noite, quando um trânsito horrível o impediu de chegar pontualmente em
casa. Ela, depois de insistentes olhares daquele homem e dos telefonemas
ousados, resolveu ceder ao seu discurso profano de que trair é muito excitante.
MINICONTOS DE ALEXANDRE CAMPANHOLA
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