sábado, 14 de fevereiro de 2015

O ASILO - 13/02/2012



 
 
 
 
Quem defronte passava àquele hostil portão,

Cujas grades pareciam as de uma cela,

Ocultar não podia um súbito pavor

Da atmosfera matutina que se esfumando,

À tarde concedia o retorno triunfal.

Percebendo os vultos que em meio aos arvoredos,

Lentamente vagavam quais sombrios fantasmas,

Quem defronte parava àquele hórrido exilo,

Por aflição ou pena, emoções indecisas,

Maldizia seus reflexos que são efêmeros,

Quando se entende que a mudança nunca cessa.

 

Era um recinto calmo o que detrás surgia,

Daquele rude vestíbulo que instigava

As dolorosas angústias e os pesadelos;

Era uma clausura onde as bruscas recordações

Nos ouvidos frágeis cruelmente gemiam.

Lá, os horizontes da esperança fugindo

Das ânsias navegantes, dos lentos ocasos,

O amanhecer feliz tornavam interdito.

As mágoas eram corbelhas de negras flores,

De desprezos medonhos, de frutos tão ácidos,

E perdiam-se nos sulcos das frias faces.

Remorsos confusos também em cinzas nuvens,

Enegreciam aqueles instantes tétricos,

Ameaçavam com estrondos esquecidos.

Mas, seria mesmo por culpa atroz e vil,

Que aquela gente abandonada, envelhecida,

Fora privada de morrer em solo humano?

 

Oh! Quem lamentava possuir semelhança

Com os algozes que aquele portão cruzaram,

Que decidiram o passado destroçar,

Ao espreitar o movimento tão retrógrado,

Ao respirar aqueles ares tão senis,

Não mais sabia se encontrava a confiança

Nas sensações que nasciam ao seu redor.

 

E o entardecer adejava sobre o acre campo

De criaturas recurvas, encarquilhadas...

Onde infantis posturas eram encenadas;

Gargalhadas secas do desvario cortavam

As cortinas do silêncio perturbador.

Uma expressão malsã, uma tremente fala

Balbuciava a quem nem sombra produzia;

Aos raios do meio-dia o recolhimento,

A sopa trescalando, o violão dormente

Debaixo da laranjeira há pouco explorada,

E os ruídos de folhas secas sob os pés

Arrastadas naquele lodoso terreno.

Mais tarde, o sono fraterno em seu colo tinha

Aqueles infantes infensos ao vigor,

Talvez sábios para nutrir seus fundamentos,

Ou de uma mão tão caridosa dependentes.

 

 
ALEXANDRE CAMPANHOLA


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