sábado, 10 de janeiro de 2015

DECEPÇÕES AMOROSAS: Camisa Rosa


 
 
 
Era um ou outro que conhecia seu nome de registro, Clodoaldo, pois desde sempre atendia às pessoas com a alcunha de “Camisa Rosa”, uma vez que raramente usava uma camisa de outra cor, senão daquela que caracterizava seu jeitinho plácido e manso, o qual combinava com seu sorriso de criança feliz. Camisa Rosa era um amor de pessoa, amigável, um esposo exemplar. Era incapaz de negar algo a qualquer um, sobretudo à esposa Mariazinha, uma baixinha meio marrenta que, obviamente, desfrutava da extrema bondade do esposo para reinar no lar. Até aquela impressionante tarde de uma quinta-feira outonal, a vida do casal baseou-se nesta relação previsível, em que Mariazinha mandava e desmandava em Camisa Rosa, controlava suas atitudes, impunha as exigências, explorava seu bom coração, enganava-o facilmente com mentiras, tinha a última palavra. Mas, naquela tarde, Mariazinha viu a decepção bater à porta e aquela imagem favorável de um esposo submisso desmoronar. Foi quando se negou veementemente a comparecer ao aniversário de oitenta anos da mãe de Camisa Rosa, a sogra, a qual o ensinou a ser daquele jeito. Com os excessivos “Nãos” de Mariazinha, um nervosismo incomum se apossou dele, que o fez lançar sua palma na fofa face da teimosinha. Ela apenas arregalou os olhos e o obedeceu. Ambos foram à festa, naquela tarde, em que Camisa Rosa tinha vestido uma camisa azul, que comprara para a ocasião.
 
 
 
 
SÉRIE: DECEPÇÕES AMOROSAS
MINICONTO DE ALEXANDRE CAMPANHOLA
 
 

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