Era
um ou outro que conhecia seu nome de registro, Clodoaldo, pois desde sempre
atendia às pessoas com a alcunha de “Camisa Rosa”, uma vez que raramente usava
uma camisa de outra cor, senão daquela que caracterizava seu jeitinho plácido e
manso, o qual combinava com seu sorriso de criança feliz. Camisa Rosa era um
amor de pessoa, amigável, um esposo exemplar. Era incapaz de negar algo a
qualquer um, sobretudo à esposa Mariazinha, uma baixinha meio marrenta que,
obviamente, desfrutava da extrema bondade do esposo para reinar no lar. Até
aquela impressionante tarde de uma quinta-feira outonal, a vida do casal
baseou-se nesta relação previsível, em que Mariazinha mandava e desmandava em
Camisa Rosa, controlava suas atitudes, impunha as exigências, explorava seu bom
coração, enganava-o facilmente com mentiras, tinha a última palavra. Mas,
naquela tarde, Mariazinha viu a decepção bater à porta e aquela imagem
favorável de um esposo submisso desmoronar. Foi quando se negou veementemente a
comparecer ao aniversário de oitenta anos da mãe de Camisa Rosa, a sogra, a
qual o ensinou a ser daquele jeito. Com os excessivos “Nãos” de Mariazinha, um
nervosismo incomum se apossou dele, que o fez lançar sua palma na fofa face da
teimosinha. Ela apenas arregalou os olhos e o obedeceu. Ambos foram à festa,
naquela tarde, em que Camisa Rosa tinha vestido uma camisa azul, que comprara
para a ocasião.
SÉRIE: DECEPÇÕES AMOROSAS
MINICONTO DE ALEXANDRE CAMPANHOLA
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